Por Redação Sintonize o Som - 08 de dezembro de 2025
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), ícone da logística nacional por mais de 350 anos, vive sua pior crise financeira da história. Com prejuízos acumulados que superam R$ 6 bilhões só nos três primeiros trimestres de 2025, a estatal acumula 13 trimestres consecutivos de resultados negativos, iniciados no final de 2022. O rombo, que já representa mais da metade do déficit previsto para todas as estatais federais neste ano (R$ 9 bilhões no total), pressiona as contas públicas e obriga o governo a contingenciar R$ 3 bilhões em gastos de ministérios para cumprir as regras fiscais.
O presidente Emmanoel Schmidt Rondon, empossado em setembro, admite que a recuperação só deve ocorrer em 2027, dependendo de um socorro bilionário. "Estamos reestruturando para reequilibrar as contas em 2025 e 2026", afirmou Rondon em coletiva recente. Mas o caminho é árduo: o Tesouro Nacional rejeitou a garantia para um empréstimo de R$ 20 bilhões (R$ 10 bilhões em 2025 e R$ 10 bilhões em 2026) proposto por bancos como Banco do Brasil, Caixa e instituições privadas, devido a juros elevados (cerca de 18% ao ano). Sem o aval, a estatal precisa de R$ 6 bilhões emergenciais só para fechar o ano.
O Que Levou os Correios ao Colapso?
A crise não surgiu do nada. Especialistas apontam uma combinação letal de fatores:
- Perda de Mercado para Concorrentes Privados: Outrora detentora de 50% do setor de encomendas, a ECT caiu para 25%. Empresas como Jadlog e Loggi cresceram com entregas mais ágeis e tecnologia moderna, enquanto a frota dos Correios está sucateada por falta de investimentos. O e-commerce explodiu, mas a estatal não acompanhou.
- "Taxa das Blusinhas" e Queda na Receita Internacional: O novo marco regulatório de importações, implementado em 2024, reduziu a receita com encomendas internacionais de R$ 2,1 bilhões (1º semestre de 2024) para R$ 815 milhões (2025). Essa "taxa" – cobrada sobre compras baratas no exterior – beneficiou o varejo nacional, mas esvaziou o caixa da ECT, que dependia de até 25% de seu faturamento desse serviço.
- Dívidas e Gastos Descontrolados: Empréstimos de R$ 2,35 bilhões tomados em 2024 e 2025 para cobrir déficits vencem agora, com juros de R$ 157 milhões só no terceiro trimestre. Além disso, precatórios e ações trabalhistas explodiram: de R$ 483 milhões em 2024 para R$ 2,1 bilhões em 2025, com quase 60 mil processos em aberto – metade deles protocolados nos últimos 12 meses.
- Má Gestão e Interferência Política: Cortes em investimentos, frota obsoleta e indicações políticas para diretorias são criticados. A ex-diretora financeira, Maria do Carmo Lara Perpétuo (PT-MG), foi demitida em fevereiro após polêmicas. Funcionários relatam assédio moral e falta de transparência em audiências no Senado.
- Passivo Previdenciário: A estatal destinou R$ 7,6 bilhões do caixa para cobrir o rombo no Postalis, fundo de pensão dos empregados, agravando a liquidez.
A receita líquida despencou 12,7% nos nove primeiros meses de 2025, para R$ 12,3 bilhões, enquanto custos com pessoal subiram com reajustes salariais de 4,11%.
Medidas de Emergência: Demissões, Fechamentos e Cortes
Para estancar a sangria, os Correios aprovaram um plano de reestruturação que prevê economia de R$ 1,5 bilhão em 2025:
Outras ações incluem teto de gastos de R$ 21,96 bilhões para 2025, suspensão de contratações terceirizadas e renegociação de contratos com corte mínimo de 10%. Um marketplace próprio deve ser lançado ainda este ano, e há captação de R$ 3,8 bilhões com o New Development Bank (NDB) para investimentos.
Impactos Sociais e no Governo
A crise vai além dos números. Empregados protestam: o Sintect-SP aprovou indicativo de greve para 16 de dezembro, após a estatal vetar o "vale-peru" (bônus de Natal de R$ 2,5 mil) e prorrogar o acordo coletivo sem reajustes. "Estamos pagando pela má gestão", diz Emerson Marinho, da Fentect. Funcionários relatam atrasos em pagamentos e condições precárias, agravando o passivo trabalhista de R$ 700 milhões.
No governo, o rombo força bloqueios orçamentários, tirando recursos de saúde e educação. O presidente Lula nega privatização – "Os Correios são patrimônio nacional" –, mas especialistas como Marcus Pestana, da Instituição Fiscal Independente, alertam: "Cada real subsidiado é dinheiro a menos para o povo". A oposição cobra transparência, enquanto sindicatos defendem o papel social da estatal em áreas remotas.
Nas redes sociais, o tema ferve. Usuários como @SensoCrtico1 destacam o veto ao bônus de Natal, e @gazetadopovo projeta as 15 mil demissões. Memes sobre atrasos em entregas viralizam, ecoando a frustração cotidiana.
Perspectivas: Luz no Fim do Túnel?
Com o Natal se aproximando – pico de encomendas –, os Correios prometem "continuidade operacional". Mas sem o empréstimo, o risco de paralisia é real. O governo estuda alternativas, como aval parcial do Tesouro. Analistas preveem que, se o plano der certo, a estatal pode voltar ao azul em 2027, focando em logística verde e digitalização.
Os Correios, que conectam o Brasil há séculos, agora lutam pela sobrevivência. Resta saber se o "carteiro rei" renascerá ou se tornará relíquia. Fique ligado no Sintonize o Som para atualizações.






























